"Do que eu mais sentirei saudades, (...) é daqueles tempos parados, gelados e pesados de nuvens na estação morta, quando, se eu fosse suficientemente tolo para pôr o pé fora de casa para o escuro frio e sem luar, só poderia esperar ver o bruxulear das chamas das velas dos meus vizinhos e só poderia esperar ouvir, para além do crepitar do gelo sob os meus pés, o som do trabalho das ferramentas distantes do verão."
Depois da leitura terminada, ainda estou perdida em pensamentos. Foi sem dúvida uma leitura surpreendente!
Confesso que quando folheei o livro pela primeira vez, senti receio de não gostar da leitura. Vi muito pouco dialogo e fiquei logo apreensiva. Outro choque que se sente ao inicio é na linguagem. O autor Jim Crace brinda o leitor com uma linguagem cuidada e que requer muita atenção por parte do leitor. Esta não é uma leitura que se faça a correr e sim com toda a calma do mundo, para podermos absorver as palavras e a narrativa.
Esta é uma narrativa cheia de surpresas, reviravoltas, mistério, algumas mortes, que deixam o leitor colado ao livro.
A história é passada numa pequena aldeia em Inglaterra. Uma aldeia pacata e tranquila, que respira e vive a natureza. Homens e mulheres vivem do trabalho do campo, da lavoura das terras, da ceifa, da colheita, levam uma vida calma até ao aparecimento de três desconhecidos.
Estes desconhecidos irão alterar a vida destes aldeãos como nunca imaginariam. Vão lançar a dúvida, a violência, a mentira, a destruição numa comunidade que até então era pacata e serena.
Narrada por Walter Thirks, o único homem que fica na aldeia até ao fim, acompanhamos todas as aventuras e desventuras de uma comunidade, que não está preparada para receber um novo senhor das terras nem as suas ideias de industrialização.
A história contada por Walter Thirks passasse num curto espaço de sete dias. Sete dias bastam para acompanharmos o desmoronamento de uma aldeia e de uma comunidade encantadora, assistimos ao esquecimento da moral e dos bons costumes, até só restar vazio e cinzas.
Muitas são as personagens que marcam e animam esta história e que contribuem para uma narrativa emocionante.
Jim Crace com a sua mestria, ofereceu ao leitor uma narrativa inesquecível e adequou bem a linguagem usada, à época narrada.
Uma leitura que recomendo e que oferece ao leitor uma inquietante história.
Boas leituras!
Para mais informações sobre o livro Colheita consulte o site da Editorial Presença aqui
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