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domingo, 31 de janeiro de 2021

[A minha Opinião] Apneia

 

Apneia de Tânia Ganho

Apneia é a minha leitura de estreia com a escritora portuguesa Tânia Ganho. Este livro foi uma de duas leituras conjuntas, que realizei no Clube de Leitura Manta de Histórias. Bendita votação que me possibilitou a mim e a muitos outros membros do Clube, a embarcarmos nesta viagem.

Para quem ainda não leu e está na dúvida ou assustado com as 696 páginas, só vos tenho a dizer, leiam. Esta leitura surpreendeu-me. Surpreendeu-me pela escrita maravilhosa da autora. Surpreendeu-me pela temática abordada. Surpreendeu-me pelo grande trabalho de pesquisa. Surpreendeu-me pela carga emocional. Surpreendeu-me pela fluidez da leitura. 

Antes de iniciar este livro, já tinha algumas indicações que seria uma leitura dura, com grande carga emocional. Ler sobre violência doméstica é sempre cruel. Confesso que estava apreensiva. Sou uma leitora facilmente impressionável. Estava com receio de não conseguir ler esta história, caso houvessem passagens mais sensíveis. Uma coisa é certa, apesar de não haver passagens graficamente chocantes, esta história esgotou-me de início ao fim. 

A autora conseguiu, de forma brilhante, passar o sufoco, a impotência, a desesperança da personagem principal Adriana, e do seu filho Edoardo. Conseguiu também passar-me o sentimento de revolta, de ódio, de incredulidade em relação a Alessandro. Como é possível um ser humano ser capaz de tanta crueldade em relação a outro? Como é possível um homem ter tanto ódio pela sua mulher? Como é possível um pai negligenciar e perturbar tanto um filho? E conseguiu também retratar a realidade nua e crua da nossa justiça. Que é morosa, penosa, que nem sempre protege as vítimas e que deixa em liberdade o agressor. 

Apesar de durante a história serem narradas passagens muito idênticas da vida de Adriana e Edoardo, e de alguns leitores as acharem desnecessárias, não as entendi como tal. A meu ver a autora quis passar ao leitor a atmosfera de intranquilidade e repetição da violência. Quis transportar o leitor para aquele ambiente pesado e negro. Nesse aspecto foi brilhantemente conseguido. 

Esta história mexeu-me de tal forma com os nervos e emoções, que em diversas alturas da história quis gritar com todas as personagens. Quando um livro nos desperta este tipo de reacções só temos uma coisa a fazer, deixá-lo assentar. São livros que marcam, que fazem reflectir, que revoltam e que temos sempre de recomendar a leitura. E é isso que aqui vou fazer, recomendar-vos sem reservas esta leitura. Quer se goste ou não do final deste livro, será sempre um grande livro, escrito em português, por uma autora portuguesa. 

Depois desta leitura, já estou a pensar em adquirir mais livros da Tânia Ganho. Com este livro a autora ganha mais uma fã. 

Boas leituras! 

"O trauma é um ruído com que as vítimas vivem de manhã à noite, o ruído da violência sempre presente, ao acordar, ao deitar, e pelo meio, a tentativa de ser normal. A normalidade ansiada e que, a cada momento de insegurança ou frustração, se percebe que está longe de ser uma realidade."

🌟🌟🌟🌟🌟 

 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

[A minha Opinião] O Cardeal

 

O Cardeal de Nuno Nepomuceno

Janeiro já começa a ser sinónimo de um novo livro do Nuno Nepomuceno. O ano passado, por esta altura, já andava toda entusiasmada com a leitura de A Morte do Papa. A isto é que eu chamo começar bem o ano! 

Não é segredo para ninguém que sou super fã dos livros do autor. É o meu autor português favorito. Os seus livros são fantásticos. Além disso é uma pessoa humilde e tudo faz para manter o contacto com os seus leitores. É o completo oposto do escritor Adam Immanuel, presente em O Cardeal. 

Antes de avançar para a minha opinião sobre esta leitura, só quero referir o magnífico trabalho da Vera Braga, a responsável por esta capa incrível. Acreditem, ao vivo ainda é mais bonita. 

Agora vamos lá falar sobre este livro, e que livro! Só vos digo, o Nuno Nepomuceno é o mestre do engano. Vai tecendo aqui uma teia narrativa que é qualquer coisa de fantástico. Começando pelo título do livro, O Cardeal, que tem múltiplos sentidos e significados durante a história. Quando lerem o livro irão entender o que vos digo. 

A história começa a todo o gás. O primeiro capitulo agarrou-me logo. É a terapia de choque, que o autor tão bem sabe fazer. Mas leitores, se pensam que as cenas chocantes terminam ali, então preparem-se para as páginas seguintes. E mais não vos digo! O que posso adiantar é que este livro me fez lembrar, o segundo livro da série, Pecados Santos. Não pela história ou acontecimentos narrados, mas pela violência dos crimes, o ambiente sombrio e misterioso. 

O Cardeal, além do casal Catalão, irá centrar-se em duas personagens já nossas conhecidas de A Morte do Papa, Lizzie e Adam Immanuel. É em torno delas que toda esta história se desenrola. E que novelo de intrigas e segredos aqui anda. Incrível! Estes protagonistas estão fortemente ligados ao mundo dos livros. Adam por ser escritor, mas não um por quem os leitores nutram grande simpatia, dado a sua arrogância. Lizzie, uma sub-bibliotecária, na Biblioteca de Wren, que adora livros e trabalha no que a apaixona. Todo este universo literário é trazido para a história e encaixa na perfeição na narrativa. 

Outro pormenor que gostei muito foi o de reencontrar outras personagens, de livros anteriores da série. Irão aparecer nesta história John Ashton-Davies, um antigo professor de Afonso Catalão, bem como a Sofia Conti, uma antiga aluna de Afonso, que conhecemos no livro A última ceia. 

De Lisboa a Cambrigde, cidade já nossa conhecida e marcante para Afonso Catalão, passando por Londres, a Cidade do Vaticano e Amesterdão, esta leitura é uma viagem. A história só tem a ganhar com todas estas realidades e paisagens. O autor transporta-nos para todos estes sítios e faz-nos viajar sem sairmos do lugar. Senti-me como uma turista, numa visita guiada pelo Nuno Nepomuceno. 

São tantos os aspectos positivos deste livro, a escrita do Nuno Nepomuceno, que está cada vez melhor de livro para livro. A construção da história e todas as teias de ligação tão bem urdidas. A inspiração em acontecimentos reais e que resultam muito bem na história. As personagens tão bem construídas, pelas quais senti empatia ou então um ódio de morte. A credibilidade da história e dos protagonistas, que aproxima e conquista o leitor para a narrativa. O aspecto negativo desta leitura é já a ter terminado e agora ter de esperar, pelo menos mais um ano, para voltar a ter um novo livro do autor. 

Leitores, façam um favor a vocês mesmos. Se não conhecem o autor e a série Afonso Catalão, recomendo-vos que leiam. Comecem esta viagem pelo livro A Célula Adormecida e continuem com Pecados Santos, A Última Ceia, A Morte do Papa e finalmente O Cardeal. Verão que valerá a pena descobrir este autor e todas estas histórias. Se aceitarem o meu desafio, depois façam-me saber o que acharam das leituras. 

Boas leituras! 

🌟🌟🌟🌟🌟    

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

[A minha Opinião] Felicidade

[A minha Opinião] Felicidade

Felicidade é o segundo livro que leio de João Tordo. Estreei-me com o autor com o livro A noite em que o verão acabou. Um pormenor delicioso é que ambas as leituras foram feitas no mês de Janeiro, e ambas foram leituras conjuntas do Clube de Leitura Manta de Histórias

O que dizer desta leitura? As primeiras páginas foram logo poderosas e chocantes. Já fiquei logo agarrada ao livro. Quem lê o título do livro Felicidade, está à espera de encontrar essa emoção durante a leitura. O que encontrei foi a antítese desse título. A narrativa não é feliz, pelo contrário, é uma tristeza tamanha. Não pela escrita do autor, que é soberba, mas sim pelos factos narrados serem tão trágicos. 

Todo o livro é narrado na primeira pessoa, por uma personagem que nunca chego a saber o nome. Sei tudo da sua vida familiar e profissional, dos seus pensamentos mais negros e deprimentes, mas nunca é revelado o seu nome. 

O livro começa com uma fatalidade gigante para a personagem principal. A partir daí toda a história toma proporções de tragédia grega. Sim, porque não faltam referências durante a narrativa aos deuses gregos. Essa fatalidade molda toda a restante vida do narrador, criando uma gigante bola de neve de depressão, pessimismo, aquele fado tipicamente português. 

Apesar da leitura se tornar deveras pesada e negra, não senti que esse peso tivesse influência na minha leitura. Continuei a ler com vontade esta história, sem ponta de aborrecimento. Tentei adivinhar por que caminhos seguiria o autor. Alguns acertei outros falhei redondamente.   

Os pontos positivos desta leitura são sem dúvida a escrita fantástica do autor, e o enquadramento histórico e social da época. Estas referências históricas anteriores e posteriores ao 25 de Abril de 1974, sem dúvida que enriquecem a narrativa. 

Quanto aos pontos negativos, não gostei das inúmeras referências aos deuses gregos. Até percebo que para o autor faça sentido referir, visto toda esta história ser uma tragédia grega de início ao fim. Preferia que tivesse sido em menos quantidade. A falta de empatia que senti pelas personagens é outro aspecto negativo. Não consegui me identificar ou criar um laço com nenhuma das personagens. 

No geral o balanço da leitura é positivo. Apesar desta leitura não me ter trazido a felicidade total esperada, a esperança é sempre a última a morrer (isto tem tudo a ver com o livro). Irei querer ler muitos mais livros do João Tordo.

Boas leituras! 

🌟🌟🌟