José, Será Mago?, é um pequeno conto de Mário João Alves, que nos dá a conhecer José Saramago de uma forma encantadora.
Quando iniciei a leitura fiquei completamente rendida ao rimar das palavras, ao cantar das letras, à beleza da história. "- Sim - O Ruivo ri. Tem um gargalhada feliz, timbrada, apesar da voz fininha, quando fala. - Bem, parece uma ilha, mas olha que é só uma jangada. É feita de pedra e coberta de cinza. É lá que vive o Mago, num sossego perfeito: - O José? - O José!" Pág. 7
O Ruivo e o Carapinha, são as personagens que dão voz a este conto. Ruivo é um contador de histórias e Carapinha um atento ouvinte. Ruivo gosta de contar histórias sobre o Mago José e da paixão do mesmo pelas palavras. "- Ora essa, é maguear? Maguear é ser Mago! O José, por exemplo, escreve e fala, a tentar pôr as palavras certas nas bocas das pessoas. porque sendo Mago, vê o que mais ninguém consegue ver e entende o que aos outros parece inexplicável." Pág. 8
Os diálogos entre Ruivo e Carapinha são maravilhosos. Ruivo de uma grande inteligência e Carapinha com uma inocência enternecedora.
A linguagem é simples mas ao mesmo tempo cuidada, pensada. É constante o rimar e cantar das frases, o que faz deste conto uma beleza ao olhar.
As ilustrações de Isabel Beleza maravilham o leitor e dão outro encanto ao conto. Fundem-se com as palavras como se fossem um só.
As referencias à aldeia natal de José Saramago, a Pilar del Rio e aos vários livros de José Saramago estão bem presentes no conto de formas tão brilhantes. "É nesse pilar que ele encosta a cabeça enquanto procura dentro de si novas ideias mágicas, daquelas que o tornam especial." Pág. 8
Este foi um conto que adorei ler e que aconselho a todos a leitura. Está repleto de passagens maravilhosas!
José Saramago, o escritor que diz o que quer mesmo dizer.
Boas leituras!
"O José sabe que as palavras, por si, não mudam o mundo. Ele sabe que não basta dizer "vamos construir uma ponte neste vale" para a ponte se erguer. Ele sabe que não basta dizer ao outro "eu gosto muito de ti!" para se ser um verdadeiro amigo. Que não basta pensar num bife para matar a fome. Antes pelo contrário, como se sabe, pensar num suculento bife aumenta-nos a vontade de comer. Pág. 15
"Essa é a magia de José, percebes?! As palavras do José não têm filtros. nascem-lhe no cérebro, escorregam-lhe pela língua e apoiam-se no coração para sair com a ressonância das coisas genuínas." Pág. 16
