quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Lúbrica de Cesário Verde




Lúbrica

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados 
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval 
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais, 
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu neles, sempre, espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...
Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!

1 comentário :

  1. Uma vida tão curta, um livro tão rico. Injusta morte que nos privou de outras obras de arte.

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